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terça-feira, 10 de junho de 2014

O Nível Histórico - uma proposição

Origines, um dos Pais da Igreja, e considerado o principal expoente da teologia cristã, pregava a necessidade da correta interpretação dos textos bíblicos. Assim, teve a suficiente percepção para distinguir três níveis de leitura das escrituras: 1- o Literal, 2- o Moral; 3- o Espiritual, que segundo ele, é o mais importante e também o mais difícil. Segundo Orígenes, cada um destes níveis indica um estado de consciência e amadurecimento espiritual e psicológico.


Embora não tenha autoridade alguma, sendo um leigo em assuntos religiosos, mas um leitor que adota uma postura crítica, gostaria de acrescentar mais um nível aos propostos por Orígenes: o Nível Histórico, que envolve o contexto histórico-cultural.
Acredito ser necessário, para entender  o texto bíblico (aliás, qualquer texto), o contexto histórico e cultural da época em que se passaram os fatos ou a narrativa. Isso permitiria um entendimento, com maior clareza, das narrativas contidas nos diversos livros que compõem a Bíblia.

O Nível  Histórico, ganha importância, tendo em vista o aspecto do fanatismo religioso que leva muitos leitores (posicionados nos Níveis de leitura propostos por Orígenes, mesmo inconscientemente) a adotarem uma postura de fé cega, interpretando de forma radical os textos bíblicos, esquecendo-se que muitas vezes, são utilizados no livro religioso parábolas e outros tipos de figuras alegóricas, e outros recursos literários muito utilizados naquela época, e deixando de lado o aspecto histórico-cultural, que agora propomos. 

Convêm lembrar que tais textos, foram escritos,na época, para leitura de poucos, pois o povo, em sua maioria não sabia ler. Daí, a dificuldade em entender as Escrituras por parte do povo, como acontece até hoje, apesar de a Igreja ter providenciado uma versão mais acessível ao povo, que recebeu o nome de Vulgata.

Muitas pessoas leem a Bíblia sem qualquer preparo religioso para isso. E muitas são levadas a fé cega e ao fanatismo por seus mentores religiosos (padres, pastores e até mesmo leigos).

Poderíamos citar diversas passagens do texto bíblico para justificar, a proposição do Nível Histórico. Neste momento citaremos a passagem narrada por Moisés, em Gênesis, 5, "Descendentes de Adão", que cita a idade de Matusalém, tido como o homem mais velho que já existiu, tendo alcançado a idade de 969 anos, ou ainda, o tempo que levou conduzindo seu povo do Egito a Terra Prometida, cerca de 40 anos.
Sabe-se que a Bíblia é composta de vários livros, muitos deles ligados a tradição do povo judeu. 

Nós, cristãos do ocidente, lemos a Bíblia sem atentar para a realidade e aspectos culturais daquele povo, totalmente diferente da nossa, principalmente quanto aos seus costumes nos primórdios de sua existência.

Questione, por exemplo um religioso (padre, pastor ou até mesmo um fiel), se ele acredita que Matusalém viveu 969 anos. A maioria será unânime em admitir que se a Bíblia diz que Matusalém viveu  969 anos não há porque duvidar do texto bíblico. 

Todos justificarão o aspecto da descendência divina do personagem para que tenha alcançado tanta longevidade.

Poucos são os que questionam, por exemplo, como era a contagem do tempo naquela época. Até os dias de hoje o povo judeu adota o calendário lunar, ou seja, medido segundo as fases da lua.
 
Isso exemplifica, claramente, a importância da adoção do Nível Histórico e cultural para entender o contexto em que teria vivido Matusalém e afastaria o aspecto literal da leitura do texto bíblico.

Os textos bíblicos estão cheios de passagens iguais aos relacionados a Matusalém, por exemplo, que são levados “ao pé da letra” pela maioria dos leitores, que simplesmente os leem  adotando a postura da fé cega. E nenhum mentor religioso lhes explica isso.Talvez porque nem eles saibam. Como se pode pregar algo que não se conhece? Talvez seja interessante deixar o povo na ignorância.

Outras vezes, erros de interpretação ou de tradução podem levar pessoas a crenças indevidas ou errôneas, como é o caso do Livro Apocalipse, cuja tradução correta seria Revelação, segundo renomados estudiosos dos textos canônicos. Atualmente o termo Apocalipse está ligado a crenças sobre o “fim do mundo”.

Em outros, as histórias narradas carecem de concatenação das idéias por parte do autor, deixando brechas para questionamentos. Por exemplo: com quem casou Caim para constituir família? 

Outro questionamento polêmico: porque considerar Judas um traidor se já estava escrito tudo que iria se passar com o Cristo? E se Judas não tivesse entregue Jesus, teria existido a Crucificação e a Ressurreição? Existiria o Cristianismo? Existiria a Igreja Católica? Não seria tudo isso parte do plano divino em que Jesus teria que morrer pelos pecados do mundo? Não teria Jesus pedido a Judas que procedesse como fez, para que se fizesse cumprir o que estava escrito? Com certeza, sem o ato de Judas, nem a Igreja existiria. É claro, que a Igreja recomenda para esses casos a adoção dos dogmas, ou seja: acredite sem questionar.

Entretanto, há que se reconhecer as dificuldades inerentes para se acrescer na Bíblia, comentários pertinentes a dados e fatos históricos que ajudariam muito a compreender as diversas passagens bíblicas. 

Mas, fica aqui a proposição da adoção do quarto Nível de leitura, ou seja, considerar o contexto histórico-cultural em que estão inserido as diversas passagens bíblicas, facilitando o correto entendimento dos mesmos e afastando a postura da fé cega, possibilitando uma melhor visão dos ensinamentos morais e espirituais contidos no Livro Sagrado. 

Já dizia um amigo: existem três  versões dos fatos: a minha, a sua, e a verdadeira. Escolha a sua versão e tenha fé nela.

Uma  ótima leitura e uma ótima apreensão.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Você sabe quantas Bíblias existem ?

A Bíblia é o livro mais vendido e o mais traduzido no mundo. Existem diversas versões da Bíblia, quase tantas quantas são as seitas cristãs existentes.

A Bíblia é composta pelo Antigo Testamento e pelo Novo Testamento. Este é formado pelos quatro Evangelhos com relatos sobre a vida, mensagem e milagres de Jesus, escritos entre 70 e 100 d.C. e atribuídos aos discípulos Mateus, Marcos, Lucas e João; o livro dos Atos dos Apóstolos (enviados, em grego); as cartas atribuídas a Paulo e a outros discípulos; e o Apocalipse, que contém visões proféticas sobre o fim dos tempos, o julgamento final e a volta de Jesus. Esta composição, talvez, seja a única coisa comum entre todas as Bíblias, com exceção da Bíblia hebraica, que  não possui os Livros do Novo Testamento.

Mas existem algumas versões consagradas e, portanto, mais críveis pelos fiéis cristãos no mundo todo. A seguir abordaremos as principais.

A Bíblia Hebraica  - possui 24 livros e está dividida em três partes, na seguinte ordem: 1 – Lei, II – Profetas, III – Escritos.

O cânon(1) da Bíblia hebraica, fixado pelos judeus da Palestina por volta da era cristã, é conservado pelos judeus modernos e, para o Antigo Testamento, pelos evangélicos, que só aceitam os livros hebraicos excluindo os livros escritos em grego e os suplementos gregos de Ester e Daniel.

A Bíblia Grega – ou Bíblia Grega dos Setenta (LXX), destinada aos judeus da Dispersão, engloba, numa ordem que varia segundo os manuscritos e as edições:

1 – os livros da Bíblia hebraica, traduzidos para o grego com variantes, omissões e adições (importantes nos livros de Éster e Daniel);

2 – alguns livros que não pertencem à Bíblia hebraica (vários dos quais, porém, refletem um original hebraico ou aramaico) e que entraram no Cânon(1) cristão (“deuterocanônicos”); a Igreja os tem como inspirados do mesmo modo que os livros da Bíblia hebraica.

3 – alguns livros que, utilizados esporadicamente pelos Padres da Igreja ou pelos antigos escritores eclesiásticos, não foram aceitos pela Igreja Cristã (“apócrifos”). Com exceção dos livros apócrifos, a lista dos livros da Bíblia grega é igual (numa ordem diferente) à do Antigo Testamento aceita pela Igreja.

A Bíblia de Jerusalém – considerada por muitos como a melhor edição das Sagradas Escrituras, quer pelas opções críticas que orientaram a tradução, quer pelas inroduções, notas, referências marginais e apêndices.

A tradução da Bíblia de Jerusalém, foi realizada por uma equipe de exegetas (2) católicos e protestantes a partir dos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos.

A Vulgata (3) – é a tradução para o latim da Bíblia, escrita entre fins do século IV início do século V, por São Jerónimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito respeitada.

Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes.
No século IV, a situação já havia mudado, e é então que o importante biblista São Jerónimo traduz pelo menos o Antigo Testamento para o latim e revê a Vetus Latina.

A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. No Novo Testamento, São Jerônimo selecionou e revisou textos. Ele inicialmente não considerou canônicos os sete livros, chamados por católicos e ortodoxos de deuterocanônicos. Porém, seus trabalhos posteriores mostram sua mudança de conceito, pelo menos a respeito dos livros de Judite, Sabedoria de Salomão e o Eclesiástico (ou Sabedoria de Sirac), conforme atestamos em suas últimas cartas a Rufino. Chama-se, pois, Vulgata a esta versão latina da Bíblia que foi usada pela Igreja Católica Romana durante muitos séculos, e ainda hoje é fonte para diversas traduções.

A Igreja Católica considera como oficiais 73 livros bíblicos (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo), sendo 7 livros a mais no Velho Testamento do que das demais seitas cristãs e pelo Judaísmo. As versões protestantes, em sua maioria possuem 66 livros (29 do Antigo Testamento e 27 do Novo).

De acordo com as Sociedades Bíblicas Unidas, a Bíblia já foi traduzida, até 31 de dezembro de 2007, para pelo menos 2.454 línguas e dialetos.
Não nos alongaremos mais sobre o assunto, pois não é nosso objetivo.
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(1) Cânon - livros que fazem parte da Bíblia.
(2) Exegetas - intérprete (de textos diversos,obra de arte. etc.)
(3) O nome vem da expressão vulgata versio, isto é "versão de divulgação para o povo", e foi escrita em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante de Cícero, do qual Jerônimo era um mestre.
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            A Bíblia de Jerusalém